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quinta-feira, 15 de julho de 2010

mais uma no ônibus


Hoje vindo pra casa entrei num ônibus no terminal, quando por pouco nao sentei separada da minha irmã. Eu queria sentar em um banco que desse pra ver a estrada. Sentei na janela atrás do motorista e minha irmã ao meu lado no corredor. Uma mulher sentada na outra janela da frente do ônibus, quando em pouco tempo, uma outra paga a passagem pra um cara e sai, todo mundo olhou estranho pro cara, que mais estranho era impossível. De bermuda estampada, casaco, barba, e tatuagens, muitas tatuagens, parecia ter sido cobaia dele mesmo pras tattoos, sentou-se ao lado daquela outra mulher, que já ficou atenta pra qualquer movimento estranho do cara. Ele não parava de falar, foram mais de 50 minutos sem calar a boca. O mais incrível que eu achei foi que ele tinha aquelas tatuagens todas, muitas delas inclusive no rosto, de um lado o chaves, personagem infantil, e do outro um duende fumando um baseado ao lado da estrada BR e na testa a palavra paz, enorme. me ofereceu um porta retrato em troca de 2 reais pra comprar um lanche, o motorista lhe ofereceu uma bala de café que lutou pra conseguir abrir a embalagem de plástico com os dentes que lhe faltavam. E tinha orgulho disso, disse: graças a Deus eu to perdendo os dentes. Coisa estranha. Ofereci um chocolate, claro, ele aceitou, outra dificuldade pra abrir a embalagem. Tirou a bala que já estava dentro da boca e apoiou na bermuda, pediu licença pro motorista pra comer o chocolate antes e disse que depois voltaria a chupar a bala. Foi engraçado. A mulher do lado dele sem nem conseguir olhar pra ele, e ele me perguntando de que eu tanto ria. Não podia dizer que era dele. Perguntei se ele era do sul, porque tinha sotaque sulista, mas não, ele me disse que era do Catumbi, dos prédios ali. Fingi que sabia onde era. Entendi que ele aos 13 anos saiu de casa e foi conhecer o Brasil. Passou muitos anos no sul e agora voltou pra visitar a mãe, em Maricá, mas deixava claro que odiava a cidade. Não parava de falar: O que eu tô indo fazer lá?
Entrou uma outra mulher com um violão na case, e ele não deixava de falar e disse: po, que viola legal, juro que eu não queria que essa moça estivesse do meu lado pra você sentar do meu lado e a gente fazer um som até lá. E cantou uma frase de uma música que só ele conhece.
O bom humor, a felicidade, o sorriso não saiam do seu semblante. E a gente reclamando de tudo com tanta coisa de sobra. Visivelmente ele só tinha aquela mochila que carregava com um restinho de água numa garrafinha, um alicate de artesanato e muita história pra contar. Fez com o último pedaço de arame que tinha em seu bolso, em agradecimento ao meu chocolate, o tal porta retrato com uma flor, disse que era pra eu colocar uma foto minha com meu namorado, que eu não poderia entender como uma cantada até porque ele não queria nada comigo, respeito ele tem, e deixou óbvio quando uma mulher, mulata com corpão, bunda lá no alto, roupa justa delineando o corpo num vestidinho vermelho, desceu, ele nem olhou pra bunda dela, nem falou nenhuma gracinha, só lhe desejou paz e fez ela sorrir, quando ela agradeceu ao motorista por ter parado pra ela descer fora do ponto, e ele disse: só nao acostuma! E todo mundo riu. E pra outra ele falou: motorista acende a luz pra eu ver a cara, e o motorista não acendeu e ele disse: Ihh é homem, e tem maior barrigão uhauauhaha todo mundo riu de novo. e na verdade não era.
Pedi pra tirar uma foto, que é essa que está estampando esse texto meu. Eu não poderia deixar de colocar a foto certa aqui. Assim que eu terminei de bater a foto, mostrei a ele e ele disse: Nossa como eu sou bonito, olha motorista como eu sou bonitão. E riu. Chegou meu ponto tive que descer e lhe desejei paz da mesma forma que ele deseja pros outros, sem pedir nada em troca.
Este cara ao qual eu vou denominar de Ventania, é o exemplo perfeito daquela frase: se nada der certo viro hippie. Ele virou um, mas será que deu errado mesmo? o cara viaja o Brasil pedindo carona, conhecendo pessoas, não gasta quase nada, e vive fazendo seus artesanatos de arame por 2 reais, e eu querendo ganhar na mega sena... cada um com seus sonhos, sejam possíveis ou não. Tem gente que se contenta e é feliz com pouco.