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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Saco plástico


Meu pai sempre me ensinou que a mulher deve estar sempre cheirosa, então higiene pra mim é fundamental, e não admito que ninguém esteja fedorento, ou com mau hálito, ou qualquer coisa suja perto de mim. Tenho horror de molhar meus pés, molho no banho, claro, mas fico desesperada quando chove, só em pensar que meus pés podem molhar na água da chuva, ou seja, na lama que se forma nos buracos das calçadas e das ruas, fico com os dedos encolhidos e agoniada. Descobri a fórmula secreta pra que isso não aconteça mais. Quando chove, vou pra rua de botas, mas dentro delas protejo meus lindos pezinhos com meias e uma sacola plástica, é isso mesmo, sabe as sacolas de supermercado? Pois é, agora o que me deixa preocupada é que criaram uma lei que daqui há três anos, as empresas terão que substituir os sacos plásticos por sacolas de papel, agora me digam: como vou proteger meus pés? Uma vez, eu estava trabalhando na produção de um programa de televisão, na cidade de São Gonçalo, era na verdade um programa mostrando tudo que a prefeitura devia ter feito e não fez, como mostrar ruas sem calçadas, sem asfalto, falta da coleta de lixo, esgoto a céu aberto etc, pois é, meu primeiro dia de externas, foi um dia de chuva, mas eu, leiga, não conhecia a cidade, só sabia que era tudo muito feio e descuidado, eu tinha preconceito com o local, depois eu conto o motivo que deixei esse preconceito de lado, voltando, fui parar num bairro onde o asfalto já tinha chegado, mas só na rua principal, e nossa matéria era justamente no local enlameado, era num lixão a céu aberto, cheio de esgoto, não existia forma de passar sem pisar naquilo, água podre mesmo, lixo, urubus ao redor, foi horrível, e adivinha o que eu estava calçando? As botas? Nãaao. Eram tênis brancos de tecido, nem preciso dizer que logo no inicio da matéria eu queria ir embora correndo, né. Mas tive que ficar naquele depósito de esgoto sanitário até o fim da matéria, que na verdade era uma reivindicação dos moradores de que aquele local do lixão era o campo de futebol deles, e que não queriam que a prefeitura liberasse para uma empresa de construção fazer um condomínio. Eles nem estavam reclamando da sujeira, nem da falta de saneamento... Desesperador. Cheguei em casa e com muito nojo de mim, coloquei meu tênis direto em um balde com água sanitária e fui tomar uma banho de álcool e um banho de verdade depois, mas confesso, que mesmo assim, ainda fiquei me sentindo sujinha.
Voltando ao assunto do preconceito com a cidade, espero que um dia ela fique linda e bem organizada, eu vejo São Gonçalo como um buraco mal feito, era uma cidade de fábricas, e as pessoas começaram a construir suas casas de formas desorganizadas, sem as ruas bem definidas, cada uma num espaço qualquer, e até hoje continuaram, fizeram as ruas sem tirar nada do caminho, não tiraram os “imóveis” que estavam em local inapropriado, atrapalhando verdadeiramente o caminho, o trânsito. E assim ficou. Eu acho que não suportava ir pra lá porque quando eu era criança, meu avô morava lá, e eu era obrigada a ir pra casa dele, mas eu não podia fazer nada, não tinha lugar pra brincar, não tinha ninguém pra falar, não podia ouvir as “conversas de adulto” que aconteciam dentro da casa, então eu era obrigada a ficar a tarde toda na calçada ou numa escada que tinha no quintal, esperando que minha mãe resolvesse ir embora dali. Eu acredito que seja esse mesmo o motivo de eu não gostar muito de lá. Até que um dia eu passei a freqüentar alguns bairros por lá. Um amigo, no fim do ano na faculdade, ia viajar e passar alguns meses fora, na Austrália, até que eu fui pra despedida dele, bebi bastante, e isso me impossibilitou de ir sozinha pra minha casa. Pedi pra uma amiga que morava perto do bar, pra dormir na casa dela, fui negada solenemente. Depois pedi pra outra, que não negou, mas também ficou fácil decifrar que ela não queria muito me emprestar um cantinho na casa dela, que eu nem sabia onde era, era em são Gonçalo, e uma ultima chance, foi pedir pra um amigo, que na verdade, eu nem conhecia muito, e ele ofereceu sem nenhum medo, disse que eu poderia ir pra casa dele sem problema algum. Foi quando eu perguntei onde ele morava e veio um sonoro SÃO GONÇALO, fiquei pensando, mas eu não vou nesse lugar de forma alguma, mas também não estou em condições de ir pra minha casa sozinha, acabei aceitando o cantinho emprestado, e foi assim que meu preconceito acabou, passei a ser freqüentadora da casa de vários amigos por lá, coisa que eu não fazia nem se eu gostasse muito de alguém que me chamasse pra seu aniversario lá. E pra completar trabalhei nesse programa de televisão onde eu era obrigada a ir pro escritório que era no centro da cidade e durante as externas ir pros bairros mais decadentes.

nomes e invenções

Por que as mães acham que é legal inventar nomes para seus filhos? De onde acharam que é legal misturar nomes para criar um outro que não tem significado, nem mesmo lógica. Isso é o que uma homenagem? Mas ninguém pensa na coitada da criança que vai ter que aturar aquele nome pro resto da vida. Minha família tem essa mania, tem uma parte em que um por um tem o nome começado com a letra J, minha avó foi simples nos nomes de todos os filhos, quer dizer, em quase todos, a minha mãe foi logo a que teve a misturinha do pai com a mãe e pra piorar foi traduzido para o inglês, pra dar mais sofisticação ao José e Maria, e não satisfeitos, todos os integrantes da minha família possuem nomes compostos. E a homenagem aos avós sempre estão presentes, é o segundo nome Oswaldo nos homens e Petrina no segundo nome da minha mãe. Imagine só que o meu pai também tem o nome com mistura, Hilton e Maria, e a coitada da minha irmã teve que herdar os nomes de todos os avós, nem preciso dizer que ficou um nome horrível e que ela não gosta nem um pouco, e está pensando seriamente em entrar com o pedido de troca de nome, já que ninguém, ou quase ninguém a chama pelo nome original.
Acho que as pessoas deviam ter nomes sim, mas que aos 15 anos cada uma pudesse trocar, ou não, pelo nome escolhido por si. Tem gente que já nasce parecendo ter mais de cinqüenta anos, você fala o nome da pessoa e automaticamente já se pensa em um senhor de idade com bigodão branco e cabeça careca, e quando de repente chega o Valdecir correndo, um menininho loirinho de menos de três anos de idade, com uma chupeta na boca e um boneco de pelúcia na mão.
Outra coisa além de inventar é achar que colocar muitas letras repetidas ou letras como W, Y e K vão valorizar a criança. Pelo contrário, é mais difícil pra essas pequenas criaturas aprender a escrever e ler. Porque se o Y tem som de I, por que não coloca logo I? e por que Carla passa a ser Karlla, e daí começam os nomes Kethlin, Nathallya, Yanna, Yago, e outra coisa se eu vou colocar o nome do meu filho de Leonardo e sei que vai ser chamado de Léo, porque não registrar logo a criança pelo nome que vai ser chamado? E quando os nomes são tão mirabolantes que as pessoas sempre tem que repetir pra que alguém entenda o que estão falando, e quando o constrangimento é de “eu não to perguntando seu apelido” ou “é seu nome mesmo?”, ou “como se escreve isso?”.
Sem contar nos nomes que dão rimas do tipo Raimunda feia de cara e boa de bunda ou Tadeu já deu.
Então, minha gente, vamos ser bem claros e colocar nos nossos filhos nomes fáceis de decorar, de escrever e de pronunciar, e de preferência nada de colocar nomes parecidos em irmãos, porque você pode até achar bonito, mas aposto que não gostaria de se chamar com esses nomes inventados.

Criança frustrada = adulto deprimido

Quando criança, meus amiguinhos sempre tinham tudo da moda, era Castelo de Greyskull do He-man, era casa da Barbie, era roupa da loja Bicho comeu, e eu sempre tive que me contentar com as roupas mais baratas da Mesbla, ou da C&A, que era mais em conta, hoje nem é mais, boneca, era a imitação da Barbie, todas as amigas tinham as roupinhas descoladas da tal boneca, as minhas eram de lã, produzidas de crochê pela minha mãe. Lembro-me que uma vez pedi pro meu pai um tênis que estava na moda, era um bicolor da Redley, queria um amarelo com cinza, e adivinha o que eu ganhei? Um tal de Redponey preto com cinza. Pedi uma bicicleta amarela, ganhei de outra marca e rosa, pedi um Nauru, um sapato diferente, mas que todo mundo tinha, ganhei um Olympikus branco, pedi um Nike air, ganhei outro Olympikus, pedi uma mochila da Companny e ganhei da k&k, pedi uma sandália Kenner e ganhei Renner, quando a loja nem existia, cheguei a ponto de perder minha personalidade por uns tempos.
Queria ter tudo como as outras pessoas que viviam ao meu redor, até que, - o que era material eu não podia ter, mais por causa do meu pai querendo me dizer que tênis é tudo igual, ou que boneca serve qualquer uma desde que você tenha uma, a minha boneca era uma negrinha de beiço virado como se estivesse chorando, e tinha olhos verdes, mas eu até que gostava dela – eu comecei a querer ter até a letra das outras pessoas, porque sabia que a minha não era tão bonita, então fiquei muito tempo tentando fazer a letra da Carolina, da Elizabeth, da Carla, da Vanessa, do Mário, mas nunca deu certo, meu caderno, a cada linha tinha uma letra diferente, agora eu já aceitei a minha letra feiosa mesmo. Nessa mesma época eu inventei na minha cabeça que eu não poderia mais demonstrar, com caretas, determinadas emoções, por exemplo, eu não poderia chorar, nem dar língua, nem fazer cara de espantada, nada que pudesse de alguma forma deformar a minha aparência, então eu só sorria, ou ficava séria, isso é muito triste, imagina você ter vergonha de se assustar ou de sentir dor só por causa da cara distorção da fisionomia, e pra piorar, muito do meu jeito foi modificado por causa dos outros, eu sempre fui uma pessoa sem medos, sem vergonha, eu abraçava todo mundo que eu gostasse, beijava, sentava no colo, mas deixo claro que nenhuma dessas coisas eram com segundas intenções ou com maldade, era só a minha forma de demonstração de afeto, de carinho mesmo, até que um dia meu pai veio brigar comigo que eu estava abraçando os outros, que isso “era feio” que eu devia parar e que parecia uma vagabunda. Achei ridículo ele falar isso até porque eu era daquele jeito, pois é, mais uma vez tive que mudar, agora no meu comportamento, parei de uma vez por todas de abraçar seja lá quem fosse, não dava mais nem beijo de cumprimento, nem ria alto, nem falava alto, passei a usar roupas largas e grandes, nem era mais eu. Passei a ter raiva das pessoas que faziam isso. Depois percebi que eu estava sendo outra pessoa, um ser moldado pelos outros pra querer usar o que eles querem que eu use, pra falar o que eles querem ouvir, pra fazer o que eles acham que deve ser feito, desisti. Troquei as roupas escuras, passei a usar roupas coloridas, mas muito coloridas mesmo, apesar de não usar muitas roupas estampadas, usava verde com amarelo, rosa choque, vermelho, tudo junto, anel era meu forte, tinha quase um em cada dedo, cortei meu cabelo que estava quase na cintura, na altura da orelha. Uma outra vez foi a que meus amigos começaram a se afastar de mim e da minha irmã, e não entendíamos porque, e chegou um deles e falou que a gente tinha que parar de falar da nossa vida como fatos de coisas ruins, verdade, passei por um momento em que eu só falava de tragédia, só coisas ruins, mas era inconsciente, não percebia isso, se você me falasse que tava com a garganta doendo, era como se eu achasse que a minha doía muito mais, se você está sem dinheiro, eu estou muito mais, se você está sofrendo, eu estou muito mais, então ele falou “cara, pára de falar coisa ruim, a gente fala com você , e você nunca tem nada de bom pra falar, a gente se sente mal do lado de pessoas assim” então eu mudei isso também.
E acredito que já faz um bom tempo que não mudo meu jeito de ser por causa dos outros, quem quiser que me ature do jeito que sou, se não quiser, tchau e benção.